segunda-feira, 27 de julho de 2009

O Fio da Navalha


A mordaça

José Leite
privado.leite@gmail.com

No tempo da «Velha Senhora», o lápis azul dos coronéis do Bairro Alto estraçalhava as prosas mais inconvenientes. Depois, com a Revolução, os locais de trabalho da comunicação social considerados contra-revolucionários eram pura e simplesmente assaltados e fechados pela turba revolucionária, como aconteceu com o jornal «República» e a Rádio Renascença.
Agora, a censura é encapotada: não se vê, não há um organismo especialista em cortar prosas – há apenas uma ERC politizada que, de vez em quando, zurze em comunicados «disciplinadores» e em arengas mais ou menos legalistas a malta mais atrevida, como aconteceu recentemente com a TVI - mas sente-se e respira-se nas redacções, nos gabinetes dos directores de comunicação e administradores a contas com «shares» ou vendas cada vez mais negativos.

Pois é, a censura agora é económica, é uma auto-censura dos profissionais da comunicação que, nestes tempos de luta insana pela sobrevivência do seu posto de trabalho, preferem guardar as «cachas» que possam beliscar os senhores todo poderosos que mandam na economia deste país e que financiam, muitas vezes, a fundo perdido (com publicidade), as empresas de comunicação.

Só assim se percebem os motivos pelos quais a manchete do SP da semana passada – onde revelávamos que, alegadamente, o patrão da SONAE havia proposto a Sócrates 500 mil contos para chumbar o Freeport – não tivesse repercussão nos media habituados a tratar deste escândalo que muito tem chateado o nosso primeiro-ministro. Até a insuspeita TVI calou, apesar de sabermos de fonte segura que os factos revelados pelo SP foram devidamente analisados e ponderados no canal de Queluz. O mesmo não aconteceu na bloglosfera, onde a noticia foi amplamente divulgada e comentada (a blogosfera que surge como um dos únicos espaços de liberdade).

O certo é que a notícia fundamentava-se em documentos da PJ e em relatos de quem conhece de perto este escândalo. Tivesse a mesma sido publicada pelo «The Sun» ou o «News of World» e caía o Carmo e a Câmara dos Lordes em Inglaterra. Mas, num país covarde e cada vez mais mal frequentado, onde a corrupção e o clientelismo campeiam, a ordem foi de ignorar o assunto. É por estas e por outras que a malta aqui do SP sente que está no bom caminho: o de fazermos um jornalismo livre, irreverente e independente. Não acredito que a voz nos vá doer…


SP nº4, 22 de Julho 2009

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