ou de um regime?
Simões Ilharco*
Não se trata da reedição da queda de um anjo, obra célebre de Camilo Castelo Branco. Longe de mim, tal pretensiosismo. Trata-se, sim, da queda de um jornal ou de um regime, de tal forma estão associados um ao outro. Falo do “Diário de Notícias”, onde trabalhei muitos anos, mas no qual, nos tempos que decorrem, não me revejo. Dele se diz, com alguma ironia, que está na Rotunda, mas não faz revoluções…
Fui saneado duas vezes: uma em 1975, por José Saramago, do PCP, e mais tarde Nobel da Literatura, o que me fez andar numa manifestação na Avenida da Liberdade a gritar o “Diário de Notícias” é do povo, não é de Moscovo; outra, em 1996, por Mário Bettencourt Resendes, do PS, o que comprovava já que, em matéria de saneamentos na comunicação social, os socialistas também têm rabos de palha e telhados de vidro. E de que maneira!
À data do 25 de Abril, o DN, em formato broadsheet, tirava 240 mil exemplares e as sobras contavam-se pelos dedos. A tiragem de hoje (números de Janeiro) ronda os 50 mil, quase cinco vezes menos, e bem há pouco, já com a actual direcção, situou-se nos 42 mil, o que constituiu o valor mais baixo da história do “Diário de Notícias”, que, como se sabe, é uma publicação centenária. O jornal i, que é um recém-nascido, apresentava, há dois meses, a mesma tiragem que o matutino da Avenida da Liberdade.
É caso para dizer que o DN caiu a pique! Afundou-se, quase com o aparato do Titanic… Sem contar com os desmandos do PREC, foi o bloco central (PS e PSD) que lhe cavou a sepultura. Nomearam para directores pessoas sem qualquer categoria profissional, que sem os partidos, ou seja, por mérito próprio, nunca teriam chegado onde chegaram – autênticos comissários políticos, alguns dos quais faziam mesmo censura, o que demonstra por A mais B que a que se faz hoje em Portugal é ainda mais insidiosa e sinistra do que a antiga. Isto porque, em primeiro lugar, surge como imprevista, e, em segundo lugar, imagine-se, é feita por colegas(!) de profissão, ao serviço dos grandes interesses políticos e económicos. Chamem-lhe pântano, lamaçal, lodo ou o que quiserem, mas a realidade (triste) tem estes contornos.
Não auguro grande futuro ao “Diário de Notícias”. Bem pelo contrário. O jornal está em queda livre, com um estilo gráfico e editorial que deixa muito a desejar, e a sua vocação situacionista rouba-lhe credibilidade. Outrora jornal de referência – até mesmo com algumas fases de grande independência que contrariaram o situacionismo, o que lhe granjeou prestígio e audiência – vira-se hoje mais para o tablóide, sem preocupações culturais. Infelizmente, não é mais do que uma publicação híbrida, ensanduichada entre o “Público” e o”Correio da Manhã”.
Não auguro grande futuro ao “Diário de Notícias”. Bem pelo contrário. O jornal está em queda livre, com um estilo gráfico e editorial que deixa muito a desejar, e a sua vocação situacionista rouba-lhe credibilidade. Outrora jornal de referência – até mesmo com algumas fases de grande independência que contrariaram o situacionismo, o que lhe granjeou prestígio e audiência – vira-se hoje mais para o tablóide, sem preocupações culturais. Infelizmente, não é mais do que uma publicação híbrida, ensanduichada entre o “Público” e o”Correio da Manhã”.
Apetece-me dizer em relação ao DN dos nossos dias, e talvez com mais propriedade, o que Arons de Carvalho disse de alguns noticiários da TVI: mete-me nojo!
*Jornalista
*Jornalista
Foto: PEDRO CARDOSO
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