Joaquim Jorge*
1 - Já há muito tempo que não tínhamos uma bronca e um affaire de colarinho branco. Não está em causa Armando Vara, por acaso é do PS e lá fez todo o seu percurso ascendente na hierarquia para chegar ao topo e ganhar o mais possível. Actualmente é vice-presidente do Millennium BCP foi constituído arguido com outras pessoas, ao todo 12 (estando mais gente do PS, José Penedos e Paulo Penedos), na operação Face Oculta. Este país sem vergonha em que tudo é possível com a maior das naturalidades. A naturalização da corrupção e casos é o nosso dia-a-dia. Ninguém se importuna ou inconforma. Será com certeza mais uma novela negra própria de um filme de acção e intriga em que no fim os maus, ao contrário do normal, se salvarão e rirão dos bons.
Tenho vergonha de viver neste país de casos, estardalhaços, corrupção, luvas, jogos sujos, descaramento e impudência . Em que se investiga, contudo fica tudo na mesma e sem culpados. Uma das formas de Portugal ficar melhor, mais bem frequentado será limpar parte dos senhores que estão à frente de organismos de Estado e com ele têm negócios. Sinto-me ultrajado neste país nepótico e impune, perante este e outros casos por resolver. Nunca há culpados e quem prevarica safa-se sempre. Muitas parangonas nos jornais, fala-se durante uns tempos, depois morre tudo, até a culpa. Estou cansado deste país, apetece-me viver noutro lugar em que haja mais transparência, responsabilidde, menos habilidosos e mais condenados.
2 - Depois desta trama de contornos nebulosos, ocultos e nauseabundos, não entendo porque só está detido preventivamente José Manuel Godinho. Será porque é o elo mais fraco e perfeitamente descartável neste caso? Porque não estão presos os restantes arguidos, entre eles, Armando Vara, José Penedos, Paulo Penedos, etc. ? Porque é que o PS não suspendeu a militância aos imputados? Esta trama em que está em causa negócios na órbita do Estado - REN, Refer, Galp e EDP com empresas privadas de José Manuel Godinho - O2,SEF e outras. Potencia a existência de algo organizado e com fins objectivos, tendo por base lograr modificar determinadas directivas das empresas do Estado, cobrar comissões,suborno, fraude ao Estado, cobranças ilegais e tráfico de influências. Aproveitando os cargos institucionais de uns, posição e contactos políticos de outros, e a actividade empresarial dos demais. Esta trama corruptiva aponta para a prática de quatro crimes: corrupção, participação económica em negócio, tráfico de influência e associação criminosa.
É lamentável, alguém pagar comissões a partir da sua empresa na actividade de contactos com autoridades e cargos públicos para obter benefícios e projectos para a sua empresa. Mas não se enganem , estes procedimentos são prática comum em Portugal, estes tiveram azar, veio a lume e deram muito nas vistas... Todavia a Justiça portuguesa tem vários pesos e medidas para casos similares. A Justiça tem a responsabilidade de estar à altura do que os portugueses merecem e exigem: rapidez e que se condene os culpados. Todavia essa responsabilidade de estar à altura do que esperam os portugueses e a sociedade nunca acontece. Acontece precisamente o contrário, e a Justiça exerce-se sobre os mais débeis e prova a sua debilidade. Deveria ser exercida sobre todo o mundo e não sobre os mais fracos. A Justiça e os seus responsáveis devem dar a cara e dar explicações. A ideia que perpassa é que a Justiça não é actuante e poderia fazer mais e melhor. Daí, Portugal não ter Justiça à altura. É preciso outra política e outros valores para sair desta crise na Justiça. Reformas ou deliberações que garantam a equidade, sem privilégios para os ricos e poder de influência, os cidadãos estão cansados da humilhação cúmplice perante o poder económico. Perante todos estes casos que têm vindo a lume a Política e a Justiça não tiraram as devidas conclusões: a justiça não é infalível e a avareza é má.
A nossa sociedade não pode permitir que sectores sociais e pessoas com responsabilidades no Estado traiam os mais elementares valores e possam continuar no Estado e a condicioná-lo. É preciso uma consciência cívica da sociedade. A aposta no diálogo nem sempre é possível, já se esperou muito tempo que se faça justiça . Isto só vai com uma mobilização massiva.
*Fundador do Clube dos Pensadores
Cidadões curruptos geram GOVERNANTES CORRUPTOS....
ResponderEliminarAs leis que fazem falta aos juízes têm que ser aprovadas na Assembleia da República, assunto que a maioria dos deputados, nem sequer tem querido debater a sério(porque será?) e mesmo que fossem aprovadas,a sua escrita é encomendada a grandes escritórios de advogados, bem preparados e interessados em deixar ficar uns grandes buracos, para salvaguardar interesses obscuros das pessoas que misturam negócios com política.Outro grande problema é que a condenação pública destes senhores, dura pouco.
ResponderEliminarNa minha opinião, diria o contrário de paraizal, governantes corruptos geram cidadãos corruptos, porque o exemplo tem sempre que vir de cima.