[Semanário «SOL», 13 Novembro 2009]
Já no final de Setembro de 2009, o Semanário Privado havia denunciado «negociatas socialistas» para ajudar o «amigo» Joaquim Oliveira - e de como essa ajuda já era antiga. Dois «amigos», em particular, no jogo de interesses: Armando Vara e José Sócrates...
Empresa de Joaquim Oliveira não necessita de bancos
A ZON EMPRESTOU 200 MILHÕES À SportTV E ABRIU UMA GUERRA ENTRE ACCIONISTAS
A ZON EMPRESTOU 200 MILHÕES À SportTV E ABRIU UMA GUERRA ENTRE ACCIONISTAS
A ZON tem-se substituído aos bancos e já emprestou à SportTV cerca de 200 milhões de euros a título de suprimentos. Os accionistas sentem-se prejudicados e denunciam concorrência desleal porque esse dinheiro poderá estar a financiar, indirectamente, outros negócios de Joaquim Oliveira, que chocam com os interesses de accionistas da ZON com maior peso
Estabeleceu-se no seio do núcleo duro dos accionistas da ZON um clima de desconfiança e mau estar devido ao facto de a administração, presidida por Rodrigo Costa, os ter informado de que o BEI - Banco de Investimento Europeu, a 3 de Setembro último, aprovou um empréstimo a longo prazo de 100 milhões de euros para financiar o desenvolvimento da rede nova geração, mais conhecida por fibra. Mas este sentimento de desconfiança estabeleceu-se porque, nos últimos 3 anos, a ZON substituiu-se aos bancos e injectou como suprimentos cerca de 200 milhões de euros na SportTV, empresa com a qual mantém uma parceria de 50% do capital, exactamente a mesma percentagem de Joaquim Oliveira.
Queixam-se os accionistas, de que a ZON beneficiou um dos seus parceiros com a injecção de 200 milhões de euros a título de suprimentos e agora tem de andar a pedir dinheiro emprestado aos bancos quando este está cada vez mais caro, desconfiando, ainda, de que uma parte destes 100 milhões possam vir ter o mesmo destino dos outros 200 milhões.
Com esta operação, a ZON poupa a SportTV de ter de recorrer directamente a bancos para se financiar, evitando custos altíssimos e até uma possível recusa de crédito, devido ao facto de se saber no mercado financeiro que Joaquim Oliveira contraiu um financiamento de cerca de 300 milhões de euros para comprar a Lusomundo, no Milleniun-BCP, ao tempo da gestão de Paulo Teixeira, com o compromisso de liquidar a dívida em três anos e isso não aconteceu, tendo Joaquim Oliveira sido salvo pelo seu amigo Armando Vara que, entretanto, mudou da administração da CGD para o Millenium-BCP.
«Galinha dos ovos de ouro»
O problema é que não obstante esta injecção de dinheiro, camuflada de suprimentos e feita por apenas um dos sócios da empresa, a SportTV continua com uma grande dívida à RTP por utilização de meios, facto que levou tanto Emídio Rangel como posteriormente Almerindo Marques, a denunciarem a parceria que tinham com esta empresa por terem chegado à conclusão de que o grande beneficiado com o negócio era apenas Joaquim Oliveira.
O «patrão» da Olivedesportos é que detém os direitos das transmissões dos jogos de futebol e depois os vende à SportTV da qual também é sócio, fazendo desta forma um negócio onde lucra duas vezes. Almerindo Marques acabou com essa «galinha dos ovos de ouro», mas imediatamente a TVCabo comprou a sua posição transferindo-a para a ZON.
O que se sabe é que Joaquim Oliveira paga aos clubes de futebol pouco mais de 50 milhões de euros/ano pelos direitos de transmissão de jogos de futebol e, depois, vende-os para o resto do mundo, incluindo a SportTV, por quatro vezes mais. Ora se após este fabuloso lucro, ainda conta com a ajuda da ZON como financiadora, este pode ser considerado como um dos melhores negócios do mundo.
Sócrates nas festas de Oliveira
Os que discordam da gestão actual de Rodrigo Costa, que entrou para a PT sob a «bênção» de Sócrates e Henrique Granadeiro, afirmam que não entendem como é que detendo o grupo de Joaquim Oliveira uma participação de apenas 3,71% da ZON, este é beneficiado com cerca de 200 milhões de euros de suprimentos. E o sentimento de desconfiança aumenta quando se sabe que tanto Armando Vara, como Sócrates, são presenças assíduas nas festas que Joaquim Oliveira dá na sua casa em S. João do Estoril.
Quando a RTP deixou de ser sócia da SporTV, os direitos de transmissão de jogos passaram para a TVI, mas o amigo Moniz de outras lutas e outros negócios no tempo da RTP, deixou de contar com o apoio de Joaquim Oliveira e os directos foram novamente adquiridos pela nossa televisão pública.
Concorrência desleal
Os relatórios e contas enviados para a CMVM mostram que a ZON em 2007 fez um suprimento à SportTV de 70 milhões de euros. Em 2008 foram mais 65 milhões de euros e em 2009, foram mais 60,5 milhões de euros, totalizando 195,5 milhões de euros. Perante tais números, perguntam os accionistas, se o dinheiro deles está a servir para fazer concorrência aos seus próprios negócios, dado que bancos como Caixa Geral de Depósitos, BES e BPI são accionistas da ZON com um peso muito superior ao de Joaquim Oliveira. E como a ZON vai buscar dinheiro mais barato para o emprestar sem juros à SportTV está a concorrer com os seus interesses. Mas o maior paradoxo, reside no facto de um dos accionistas ser a Cofina que detém uma posição de 4,91%, muito superior à de Oliveira, e com o seu dinheiro está a financiar, indirectamente, jornais concorrentes como o DN, JN e O Jogo - que são propriedade do grupo ligado a Joaquim Oliveira.
A Cofina, que apesar de ter obtido lucro em todas as publicações do grupo, Correio da Manhã, Record, Sábado, Flash e Vogue, teve um resultado negativo de 73 milhões de euros, na sequência da penalização por perdas relacionadas com a sua participação na ZON que anda desbaratar dinheiro oferecendo suprimentos à SportTV.
Socialistas beneficiam Oliveira
Os economistas com assento nas reuniões do Conselho de Administração da ZON estão conscientes de que se a empresa não tivesse feito os tais 195,5 milhões de euros de suprimentos à SportTV, talvez não tivesse necessidade de, neste momento, ter ido buscar ao BEI os tais 100 milhões de euros para financiar novos projectos na sua rede de nova geração.
Mas não é a primeira vez que Joaquim Oliveira é beneficiado neste tipo de negócios. Quando foi feita a OPA para a PT Multimédia, Joaquim Oliveira foi beneficiado com 4 milhões de contos de acções, pelo então ministro Pina Moura. Acções que duas semanas depois valiam quatro vezes mais. Em 2003, em situação financeira muito difícil, o grupo de Oliveira salvou-se com a atribuição em exclusivo de um variado pacote de negócios ligados ao EURO 2004 e após esta crise, lá surgiu novamente Armando Vara a conseguir uma prorrogação do prazo para os 300 milhões de euros que serviram para comprar o grupo Lusomundo. Com estes 300 milhões de euros ao Milleniun, mais os 195,5 de suprimentos da ZON, Joaquim Oliveira só em duas instituições deve meio bilião de euros.
M.N.
[SP Nº13, 23 Setembro 2009]
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