sábado, 22 de agosto de 2009

O Fio da Navalha



Justiça TGV

José Leite
privado.leite@gmail.com

António Marinho e Pinto, o polémico bastonário da Ordem dos Advogados, é bem capaz de ter razão quando afirma que há em Portugal uma justiça para os poderosos e outra para a plebe. Segunda-feira da passada semana, recebemos uma notificação do DIAP de Lisboa informando da abertura de um processo contra a minha pessoa e uma minha entrevistada, Daniela Azevedo, por causa das denúncias desta última afirmando ter sido vítima de negligência médica, no decorrer de uma operação de redução mamária na Clínica Milénio. O queixoso é o cirurgião plástico Ângelo Ribeiro, que interpôs a acção.
Quatro dias depois, a mesma caiu na redacção do SP, o que não deve deixar de constituir um recorde em termos de despacho processual. E isto já contando com o facto de estarmos em férias judiciais e o fim-de-semana – entre a apresentação da queixa, abertura do processo e notificação aos potenciais arguidos é obra! E ainda se fala numa justiça morosa, pouco eficaz e cega. Longe de mim pensar que esta velocidade, tipo TGV, tenha a ver com o facto de o queixoso – que está no seu direito em se insurgir, isto depois de lhe termos dado a palavra para se defender no artigo, como impõem as regras deontológicas – ser uma pessoa conhecida da sociedade, um VIP, presença habitual nos programas de TV e que tem como pacientes pessoas de extractos sociais elevados, certamente desde magistradas a actores de novela e figurões daqueles do «croquete» que se pavoneiam em festas sociais. Mas esta pressa cheira a esturro. Ainda para mais, facto caricato, quando é o próprio DIAP a solicitar que lhe enviemos um exemplar do jornal onde o «crime» foi cometido… a justiça anda mesmo pelas ruas da amargura, nem sequer pode despender um euro que é quanto custa um exemplar do SP para chamar a si a prova do crime.Com alguma ironia, é caso para perguntar: e se se tratasse de umhomicida, também lhe iriam pedir para enviar a arma do crime, a Glock, uma naifa ou o frasquinho de veneno ?... Ou um denunciado do «colarinho branco», será que lhe solicitavam o computador ou o username que utilizou para apurar o processo de transferência da «massa» para um paraíso fiscal?
Posto isto, acredito que Marinho e Pinto tem toda a razão. Que a voz acusatória nunca lhe doa!

SP Nº8, 19 de Agosto 2009

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